quarta-feira, 21 de outubro de 2009


A Família Rola-bosta

Lindinhos e lindinhas visitantes, o anúncio de hoje mostra uma flagrante derrapada criativa cometida por uma agência que detém uma conta de considerável monta, a Ortopé. No anúncio, a Ortopé faz uma homenagem às crianças chamando-as de "especialistas em felicidade" por sempre nos lembrarem que "todos os momentos são perfeitos pra ser muito mais feliz."  Uiaaa! Que original! Gênio! Tocante! O texto é uma vacuidade só. Substância zero. As linhas parecem extraídas de um livro barato de auto-ajuda ou daqueles calendários patrocinados por verdurarias que trazem fotos fofas de cestas cheias de gatinhos. Eca! Bem, se o texto, apenas uma pilha de clichês açucarados sobre felicidade e crianças, revela um redator medroso o que dizer do diretor de arte? De que tipo de mente brota a imagem de um pai e filho caminhando sob chuva sobre uma esfera de grama com uma casa e uma palmeira ridiculamente distorcidas ao fundo? Tenho uma teoria. O diretor de arte da peça, em uma madrugada insone, buscava inspiração assistindo ao Discovery Channel quando deu com as fuças em um documentário sobre escaravelhos africanos "roladores de bosta". É sério, gente. Estes curiosos animaizinhos transformam excremento em pequenas esferas para depois, resolutamente, empurrá-las toca adentro e comê-las ou transformá-las em berços para suas larvas. Este movimento de rolar as esferas é que confere ao besouro o nome de "dung beetle" em inglês, "scarabée bousier" em francês e besouro do esterco ou rola-bosta em português.  Completamente encantado pelo besouro, o diretor de arte foi pra agência de manhã e adotou como destaque do layout a imensa bola de estrume onde pai e filho caminham. Ele inventou a família Rola-bosta! Gentem, desculpa, mas aquela bola de grama não parece feita de merda? Que parece, parece. E vamos combinar uma outra coisa? Executivo de gravata frouxa tomando chuva e rindo é um tremendo chavão visual pra simbolizar liberdade, rebeldia e desprendimento. E mais: além de batida a imagem do pateta de gravata rindo na chuva é falaciosa. Alguém aí já testemunhou alguém fazendo uma merda dessas na rua ou no parque? Tomar chuva é quase sempre uma experiência opressora, estressante, desagradável e humilhante. Sorry, guys. 

3 comentários:

Georgia disse...

Ortopé, ortopé, tão bonitinho...

Preferia a propaganda da botinha sorridente embaixo do arco-iris.

Eu juro que tentei captar o porquê da esfera.

Talvez eu deva intensificar os cogumelos no chá das cinco e olhar novamente a imagem.

Acho que fará mais sentido.

Debora Blog disse...

Georgia querida,
o jingle sensacional e antológico da Ortopé que você cita tinha como garoto-propaganda o Ferrugem, um ator anão, ruivo e cheio de sardas que cantava assim:
"Ortopé, Ortopé, tão bonitinho ,
Use Ortopé pra proteger o seu pezinho,
Tênis e botinhas,
sandálias, sapatinhos,
Ortopé, Ortopé, tão bonitinho !"
E concordo com vc. A bota sorridente era muito melhor que essa bizarrice aí. Aliás, qualquer coisa sorrindo embaixo do arco-íris é melhor do que isso. Valeu, amiga!
Beijocas,

Déb.

Naja Najito disse...

Um amigo meu foi morar nos EUA e acabou conhecendo o Ferrugem por lá: ele tocava bateria numa banda e servia meio que de cobaia para remédios para crescer.
Quanto ao anúncio da Ortopé propriamente, do alto da minha ignorânmcia publicitária, só senti falta do produto: os "pisantes". Poxa, até a família rola-bosta está descalça, o que mostra que podemos viver muito bem sem sapatos (a ainda mais Ortopé)!!!!
No anúncio do Ferrugem, se me lembro bem, acasa dele era uma bota!!!